sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Escritus (III)

...A sua pequena boca de Cupido, que beijara descuidadamente, parecia uma armadilha equipada de fios e roldanas invisíveis que a faziam abrir-se e fechar-se com uma cadência mecânica que o fascinava e repelia ao mesmo tempo. Quando a dobradiça se movia, e a armadilha se abria, ele podia ver os tensos filamentos da sua língua cor de gerânio. Agitava-se como uma cauda de cão-de-água, a língua dela. Nunca parava de se agitar. Quando a armadilha se abria a língua saía e batia contra um lábio inferior cheio ou delizava reptiliscamente por uma margem de molares de pérola rendilhada. Nessa manhã tinha reprimido a louca ideia de saltar sobre ela e arrancar-lhe a maldita coisa da boca à dentada...

in Moloch, Henry Miller

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